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Apresentação

Origens do Observatório

Lucia de Meira Lima começou a trabalhar sobre o Salão de 1931 na época (1982) em que fez um curso de Pós-Graduação na PUC-Rio: Especialização em História da Arte e Arquitetura no Brasil. Ao cursar a disciplina Arte Brasileira II, o professor Carlos Zilio sugeriu como tema de pesquisa esse evento que representou um marco tão significativo na história da arte brasileira.

O trabalho de pesquisa teve como objetivo fazer uma releitura da trajetória moderna da Arte Brasileira, analisando a evolução do ensino de arte, colocando o Salão de 31 em foco. Embora a tendência da arte brasileira seja de considerar a Semana de 22 como o momento da instauração da Arte Moderna no Brasil, na verdade sua implantação em nível nacional ocorreu através do Salão de 31.

Contudo, meio século já se passara e as dificuldades em localizar informações seriam muitas. Assim foi que o entusiasmo com as descobertas se chocou com a reação inicial de Lucio Costa, personagem central do grande evento:

- Minha filha, 53 anos depois, você não vai conseguir nada!

O comentário soou como desafio e a pesquisa ganhou impulso com um vasto levantamento bibliográfico e documental em arquivos e Bibliotecas. Em especial, a análise de periódicos, com reportagens e fotografias sobre a exposição, forneceu pistas valiosas para localizar as obras apresentadas naquela ocasião. 

Na sequência, vieram as entrevistas com intelectuais e artistas que, de algum modo, estiveram ligados ao evento na época. O Catálogo da exposição de 31, por outro lado, foi precioso para orientar a localização dos artistas ou seus descendentes. 

A Lucio Costa, a pesquisadora comunicou, entusiasmada, a sua partida para São Paulo, com entrevistas marcadas, inclusive com Sandra Brecheret Pellegrini, filha de Brecheret, munida de recortes de jornal em que a Fuga para o Egito estava reproduzida, além de outras preciosidades como O Jornal, Diário Carioca, O Cruzeiro, Revista da Semana e outros mais.

A pesquisa contou com apoio do Prof. Carlos Zilio, não somente ao indicar o tema inédito, mas como orientador e crítico, estimulando a pesquisa desde o início; do Dr. Lucio Costa, por dedicar horas de conversa, entusiasmado a cada descoberta e, mais tarde, Paulo Herkenhoff, diretor do INAP / FUNARTE, com o convite para Lucia ser a curadora da remontagem do Salão de 31 como a Sala Especial do Salão Nacional de Artes Plásticas, de dezembro de 1984 até 2 de janeiro de 1985, nas salas da FUNARTE. Durante todo o processo, a pesquisa também recebeu a colaboração dedicada de Maria Cristina Burlamaqui e Piedade Epstein Grinberg. A pesquisa, sob o formato de livro, intitulado Salão de 31, foi publicada em dezembro de 1984. E, agora, Lucia lança o OBSERVATÓRIO virtual, que pretende reproduzir e divulgar o material sobre o fato histórico e sua importância na formação do artista e do ensino das Artes no Brasil. 

O Salão de 31 foi o canto do cisne da tentativa de reforma e atualização do ensino das artes no país

O Salão de 31 foi o canto do cisne da tentativa de reforma e atualização do ensino das artes no país e, no que se refere à arquitetura, da reintegração plástica – ou seja, da arte – na nova tecnologia construtiva.

Daí a ideia de romper com a já cansada monotonia das mostras anteriores convocando a participar do Salão Oficial aqueles artistas de certo modo comprometidos com a Semana de 22, cujo verdadeiro propósito, no fundo, fora de contrapor a nossa mais autêntica seiva nativa, as nossas raízes, à seara das novas ideias oriundas do fecundo século XIX, já então, na Europa, numa terceira fase da sua eclosão. Objetivava-se com isso realizar aqui, conquanto tardia, uma lúcida e necessária renovação.

Essa convocação foi formalizada em São Paulo no adequado ambiente do pavilhão-museu de Dona Olívia Penteado. De modo que o Salão de 31, organizado à revelia do patrocínio do Conselho Nacional de Belas-Artes consequentemente sem premiações, foi um simples intermezzo, embora oficial, na sequência tradicional dos Salões. Excepcional não só por isso, mas também pela qualidade do acervo exposto e por sua apresentação. 

Lamentavelmente não foram fotografados os vários setores da parte moderna da exposição, definidos por painéis forrados com aniagem, os quadros apresentados individualmente, em vez de amontoados uns sobre os outros como nos Salões anteriores, disposição essa mantida na arrumação da parte dita “acadêmica”, tal como se vê nas fotos da inauguração. 

 

Nunca pensei que, mais de meio século depois, fosse alguém desencavar do fundo do tempo, este meu Salão de 31, trazendo penosamente à tona – como destroços de um naufrágio –, várias das peças então expostas, para nova apresentação. 

Louvadas sejam, pois, Lucia de Meira Lima e sua colaboradora Cristina Burlamaqui pelo generoso empenho e pelos inesperados frutos dessa apaixonada peregrinação. 

 

Todo esse meu sofrido e malogrado esforço visando à reintegração das artes, tanto na Escola como no Salão, teve, afinal, o seu aboutissement cinco anos depois, na elaboração do projeto e efetiva construção do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde. A sua pureza arquitetônica é a expressão materializada do impossível sonho dos anos 30 e 31. 

Lucio Costa

(1902 - 1998)

 

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