O Salão de 31 foi o canto do cisne da tentativa de reforma e atualização do ensino das artes no país
- Salão 31
- 25 de ago. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 17 de out. de 2023

O Salão de 31 foi o canto do cisne da tentativa de reforma e atualização do ensino das artes no país e, no que se refere à arquitetura, da reintegração plástica – ou seja, da arte – na nova tecnologia construtiva. Daí a ideia de romper com a já cansada monotonia das mostras anteriores convocando a participar do Salão Oficial aqueles artistas de certo modo comprometidos com a Semana de 22, cujo verdadeiro propósito, no fundo, fora de contrapor a nossa mais autêntica seiva nativa, as nossas raízes, à seara das novas ideias oriundas do fecundo século XIX, já então, na Europa, numa terceira fase da sua eclosão. Objetivava-se com isso realizar aqui, conquanto tardia, uma lúcida e necessária renovação.
Essa convocação foi formalizada em São Paulo no adequado ambiente do pavilhão-museu de Dona Olívia Penteado. De modo que o Salão de 31, organizado à revelia do patrocínio do Conselho Nacional de Belas-Artes consequentemente sem premiações, foi um simples intermezzo, embora oficial, na sequência tradicional dos Salões. Excepcional não só por isso, mas também pela qualidade do acervo exposto e por sua apresentação.
Lamentavelmente não foram fotografados os vários setores da parte moderna da exposição, definidos por painéis forrados com aniagem, os quadros apresentados individualmente, em vez de amontoados uns sobre os outros como nos Salões anteriores, disposição essa mantida na arrumação da parte dita “acadêmica”, tal como se vê nas fotos da inauguração.
Nunca pensei que, mais de meio século depois, fosse alguém desencavar do fundo do tempo, este meu Salão de 31, trazendo penosamente à tona – como destroços de um naufrágio –, várias das peças então expostas, para nova apresentação.
Louvadas sejam, pois, Lucia de Meira Lima e sua colaboradora Cristina Burlamaqui pelo generoso empenho e pelos inesperados frutos dessa apaixonada peregrinação.
Todo esse meu sofrido e malogrado esforço visando à reintegração das artes, tanto na Escola como no Salão, teve, afinal, o seu aboutissement cinco anos depois, na elaboração do projeto e efetiva construção do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde. A sua pureza arquitetônica é a expressão materializada do impossível sonho dos anos 30 e 31.
Lucio Costa
(1902 - 1998)
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