Trechos da entrevista do Professor José Maria dos Reis Júnior (1903–1985)
- Salão 31

- 21 de set. de 2023
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PARA A PESQUISA GUIGNARD
Rio de Janeiro, 28 de agosto de 1982
"[...] Não havia no Brasil outro meio de cultura artística a não ser a Escola, antiga Academia era o centro. Havia na Bahia uma escola, mas não dava prestígio, nem premiação, nem notoriedade. Tudo afluía para cá, e todos concorriam ao Salão para obter os prêmios, sobretudo o prêmio de libertação que era o de viagem”.
Quanto aos primeiros movimentos de rebeldia contra o neoclassicismo da Missão Francesa:
“[...] O movimento começou aqui antes do que em São Paulo, é que o trabalho aqui esbarrava na Escola. Aqui foi feito pelos artistas, não pelos intelectuais (como na Semana de Arte Moderna de 22); aqui não tinha o respaldo dos intelectuais porque não havia entrosamento entre intelectual e artista. Faltava apoio.
[...] O reduto acadêmico aqui era muito mais forte que em São Paulo. Para reforçar a Academia de Belas-Artes, havia a Academia de Letras, o conservadorismo era geral e muito arraigado.
[...] Aqui no Rio começou com um grupinho, mais ou menos em 1918-1919, antes que em São Paulo. A turma se reunia no Café Gaúcho (esquina da rua São José com Rodrigo Silva) discutindo arte, a casmurrice do meio, o que se poderia fazer para melhorar isso. Dali surgiu a ideia de fazer um Salão independente do Salão Oficial. Dali saiu o 1º Salão da Primavera, com tendência mais aberta, sem júri; o catálogo com prefácio de Murilo Araújo. Esse Salão se realizou no antigo Liceu de Artes e Ofícios, onde hoje é a Caixa Econômica. Aí começou um certo movimento diferente daquele academicismo da Escola.
O Salão foi realizado depois da Semana de Arte Moderna: primeiro o Salão da Primavera, depois o Salão de Maio. Houve dois Salões da Primavera, mas não há registro, nenhum catálogo se conservou.
[...] A crítica surge depois da Semana de Arte Moderna, que abriu as comportas. Ela pôde ser realizada em São Paulo não porque houvesse movimento de arte moderna lá. O movimento lá foi feito porque as pessoas da sociedade, com dinheiro custearam o movimento, que pôde ter aquele alcance. Era composto mais de escritores do que de artistas plásticos, que têm mais difícil contato com o meio jornalístico.



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