As contribuições de Heuberger ao olhar moderno brasileiro
- Salão 31

- 21 de abr. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de out. de 2023
Em 1924, o alemão Theodor Heuberger [40] chega ao Rio de Janeiro trazendo novas tendências artísticas ainda desconhecidas entre nós, e dedica-se a estimular o intercâmbio cultural entre Brasil e Alemanha.
Assim Heuberger narra sua vinda para o Brasil:
A minha vinda ao Brasil foi devido à ligação que o pintor Navarro da Costa, então cônsul-geral em Munique, mantinha com artistas alemães. Ele nos convidou para fazer uma exposição no Brasil em troca dele fazer uma exposição na Alemanha. Navarro da Costa fez a exposição na nossa roda, no Hotel Palace, como era desejo dele e nós recebemos as passagens do Itamarati para virmos ao Brasil. [...] Aqui lutamos quatro anos para entrar na Academia de Belas-Artes, que estava nas mãos de pintores franceses, e que não gostaram dos alemães que tinham perdido a guerra e eles se sentiram com o trunfo nas mãos. [41]
Uma contribuição muito importante trazida por Heuberger refere-se ao modo como as obras eram dispostas em exposições:
Eu quase desmaiei quando vi a exposição do Salão de 1924, na Escola de Belas-Artes, com quadros em quatro filas... por isso eu organizei uma exposição numa linha só. Foi uma beleza! Eles disseram: “Que coisa, a gente pode respirar, a gente pode ver um quadro diferente do outro, em vez de um quadro matar o outro!” [42]
A exposição a que ele se refere é a 1ª Exposição de Arte Alemã, no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, inaugurada em 13 de setembro de 1924, e posteriormente levada a São Paulo, Campinas e Santos. Nas palavras do próprio Heuberger, essa exposição foi um grande sucesso:
A reação foi tão grande que ficamos animadíssimos e convencidos de que tínhamos a missão de colaborar e continuar com persistência o intercâmbio cultural, não só de trazer artistas de lá, como enviar de cá para lá. Iniciamos cursos de arte que foram muito procurados porque havia uma nova maneira de ensinar. Trouxemos artistas como Friedrich Maron, que pintou principalmente a Ilha de Paquetá, e Leo Putz, que realizou três ou quatro exposições na Galeria Heuberger. [43]
Funda a Galeria Heuberger, inicialmente localizada nos fundos do térreo do prédio da Associação dos Empregados do Comércio, em cujo prédio funcionaria mais tarde a Pró-Arte, no 4º andar.
Um dos grandes méritos das exposições trazidas por Heuberger foi o de ter mostrado reproduções de obras de artistas já famosos na Europa, tornando conhecidas do público obras de artistas como Van Gogh, Cézanne, Renoir, Monet etc. de maneira a sensibilizar o olhar brasileiro habituado às tendências acadêmicas. Em 1928, consegue, pela primeira vez, apresentar a arte alemã no recinto da Escola Nacional de Belas-Artes, até então proibida pela orientação acadêmica, fiel à influência francesa. Inaugura a Grande Exposição de Arte Alemã no Brasil, apresentando todas as tendências contemporâneas de arte, organizadas de maneira destacada, ao invés do amontoado habitual dos Salões.

Esse evento encerrou-se com a comemoração do 4º centenário de morte do artista alemão Albrecht Dürer, com concertos e conferências no mesmo recinto.
Em 1929 organiza a exposição Deutscher Werkbund – Associação das Artes Decorativas da Alemanha, fundada em 1907, com as peças expostas em vitrines embutidas e cobertas de juta, inéditas até então.
Em 1930 funda a Pró-Arte visando intensificar o intercâmbio artístico e musical com a Alemanha, instituição atuante até hoje, com sede em Teresópolis.
Vencendo inúmeras dificuldades desde sua chegada ao Brasil, Heuberger foi um dos maiores incentivadores da arte moderna no Rio de Janeiro. Prova disso é que a revista Intercâmbio, da Pró-Arte, publicava obras modernistas não apenas de artistas plásticos como, também, de escritores brasileiros. Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade e o sempre presente Manuel Bandeira tiveram seus textos ali publicados e traduzidos para o alemão.
[40] Theodor Heuberger nasceu em 1898 em Munique (Alemanha) e faleceu em 1983 em local ignorado. Veio para o Rio de Janeiro como membro de uma missão de intercâmbio, a convite do cônsul geral do Brasil em Munique, o pintor Navarro da Costa. Embora tenha sido, ele próprio, um pintor, Heuberger notabilizou-se mais como um empreendedor cultural, com atuação no Rio de Janeiro.
[41] Trecho da Entrevista de Theodor Heuberger (Munique – 1898-1983) para Maria Cristina Burlamaqui. Teresópolis, 8 de janeiro de 1983.
[42] Id.
[43] Id.












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